Tempo após tempo no centro da Praça
o Rei medita.
Conserva a fronte altiva, o queixo austero
mas o rubro esplendor do sacrílego manto
é apenas uma saudade oblíqua
que o atormenta.
Longe, nos areais do Sul
ficou sepultada sua corte de guerreiros
seus capitães
embebidos nas ondas confundidos com o mar.
A sombra dos coqueiros engoliu o seu reino
escamas e cabeças apodrecem
onde intrépida refulgia a azagaia.
Por isso não dorme o Rei e só, medita
À chuva e ao vento, noite e dia.
Seu perfil perpétuo povoa a praça
Porém nos Angolares vaga um coração
em demanda de um povo e seu destino.
(Conceição Lima, n 1961, S. Tomé e Príncipe
in "O Útero da Casa", Editorial Caminho, 2004, Lisboa)