Shelley sem anjos e sem pureza,
aqui estou à tua espera nesta praça,
onde não há pombos mansos mas tristeza
e uma fonte por onde a água já não passa.
Das árvores não te falo pois estão nuas;
das casas não vale a pena porque estão
gastas pelo relógio e pelas luas
e pelos olhos de quem espera em vão.
De mim podia falar-te,mas não sei
que dizer-te desta história de maneira
que te pareça natural a minha voz.
Só sei que passo aqui a tarde inteira
tecendo estes versos e a noite
que te há-de trazer e nos há-de de deixar sós
(Eugénio de Andrade, n 1923, Portugal
in "As Mãos e os Frutos")