O canto alegre dos galo
no sertão amiudava!...
Nos taquará das lagoa
as saracura cantava!...
Cantando passava um bando
das verde maracanã!
Fermosa, cumo a cabôca,
Vinha rompendo a minhã!
O vento manso da serra,
vinha acordando os caminho!
Vinha das mata chêrosa
um chêro de passarinho!...
Lá, no fundo d'uma gróta,
adonde um córgo gimia,
gragaiava as siriêma
cum o fresco nacê do dia.
Uma araponga, atrepada
n'um braço de mato, im frô,
gritava, como se fosse
os grito da minha dó!!
E a sabiá, lá nos gaio
da larangêra, serena,
cantava, cumo si fosse
uma viola de pena!
Um passarinho inxirido,
mardosamente iscundido
nas fôia de um tamburí,
satisfeito, mangofando,
de mim se ria, gritando
lá de longe: "bem te vi"!
Chegando na incruziada,
despois do dia rompê,
sipurtei o meu segredo
n'um véio tronco de ipê.
Dênde essa hora, inté hoje,
eu conto as hora, a pená!...
Eu vórto a sê marruêro!
Vou vivê com os marruá!
Eu tinha o corpo fechado
prá tudo o que é marvadez!
Só de surucucutinga
eu fui mordido três vez!...
Dos marruá mais bravio,
que nos grotão derribei,
munta pontada, sá dona,
munta chifrada eu levei.
Prá riba de mim, Deus pode
mandá o que ele quizé!
O mundo é grande, sá dona!...
Grande é o amô!... Grande é a fé!
Grande é o pudê de Maria,
isposa de São josé!...
O Diabo, também, sá dona,
foi grande!... Cumo inda é!!!
Mas porém, nada é mais grande,
mais grande que Deus inté,
que uma cornada dos chifre
dos óio d'uma muié...
(Catulo da Paixão Cearense, 1863-1946, Brasil
in, "Meu Sertão", Livraria Castilho, RJ, 1920)