Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente,
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer,
é um andar solitário entre a gente,
é nunca contentar-se de contente,
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade,
é servir a quem vence, o vencedor,
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Sonetos
Luís de Camões, 1524-1580, Portugal)