A fermosura desta fresca serra
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;
O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;
Enfim, tudo o que a rara Natureza
Com tanta variedade nos of'rece,
Me está, senão te vejo, magoando.
Sem ti, tudo me enjoa e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias mor tristeza.
(Sonetos
Luís de Camões, 1524-1580, Portugal)