As minhas mãos magritas, afiladas,
Tão brancas como a água da nascente,
Lembram pálidas rosas entornadas
Dum regaço de Infanta do Oriente.
Mãos de ninfa, de fada, de vidente,
Pobrezinhas em sedas enroladas,
Virgens mortas em luz amortalhadas
Pelas próprias mãos de oiro do sol poente.
Magras e brancas...Foram assim feitas...
Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas...
Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!
Pra que as quero eu -- Deus! -- Pra que as quero eu ?!
Ó minhas mãos, aonde está o Céu?
Aonde estão as linhas do teu rosto?
(Charneca em Flor
Florbela Espanca, 1894-1930, Portugal)