A noite sobre nós se debruçou...
Minha alma ajoelha, põe as mãos e ora!
O luar, pelas colinas, nesta hora,
É água dum gomil que se entornou...
Não sei quem tanta pérola espalhou!
Murmura alguém pelas quebradas fora...
Flores do campo, humildes, mesmo agora,
A noite os olhos brandos lhes fechou...
Fumo beijando o colmo dos casais...
Serenidade idílica das fontes,
E a voz dos rouxinóis nos salgueirais...
Tranquilidade...calma...anoitecer...
Num êxtase, eu escuto pelos montes
O coração das pedras a bater...
(Charneca em Flor
Florbela Espanca, 1894-1930, Portugal)