sábado, janeiro 15, 2005

II

Meu amor, meu Amado, vê...repara;
Pousa os teus lindos olhos de oiro em mim,
- Dos meus beijos de amor Deus fez-me avara
Para nunca os contares até o fim.

Meus olhos têm tons de pedra rara
- É só para teu bem que os tenho assim --
E as minhas mãos são fontes de água clara
A cantar sobre a sede dum jardim.

Sou triste como folha ao abandono
Num parque solitário, pelo Outono,
Sobre um lago onde vogam nenufares...

Deus fez-me atravessar o teu caminho...
- Que contas dás a Deus indo sózinho,
Passando junto a mim, sem me encontrares? --

(Charneca em Flor
Florbela Espanca, 1894-1930, Portugal)