terça-feira, janeiro 04, 2005

Descalça vai para a fonte

Mote

Descalça vai para a fonte
Lianor, pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Voltas

Leva na cabeça o pote,
Os textos nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamalote;
Trás a vasquinha de cote,
Mais Branco que a neve pura;
Vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro o entrançado,
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura:
Vai fermosa, e não segura.

(Poesias Líricas
Luís de Camões, 1524-1580, Portugal)