sábado, abril 02, 2005

Daimonde Jones

Nas minas da África do Sul
seu nome ronga ou xope ou xangane
ficou sepultado
A sua sonoridade é hoje despojo irrelevante
Na cruel ressurreição chamaram-lhe Diamond

Daimond Jones ê!
Daimooooonde!

Este livro obsceno que diverte a miudagem
tem a idade das roças de cacau na ilha de São Tomé

Não reside em Santa Margarida nem em Porto Alegre
nem na Aldeia Murça nem em Água Izé
O coração da cidade o acolhe e o repele

Bebe os tostões que jardina
e escarra impropérios enquanto jardina
este esquivo transeunte, vacilante hóspede
das esquinas de São Tomé

Não amaldiçoa o sistema que lhe extorquiu
a linha vertebral, o nome, o caminho do Oriente
Guarda intactas velhas mesuras
as mesmas distraídas esmolas
nos bolsos de um grotesco ex-fato de ministro

Sabe engatilhar a palavra pat'rãão quando tem fome

(Conceição Lima, n 1961, S. Tomé e Príncipe
in "O Útero da Casa", Editorial Caminho, 2004, Lisboa)