A Alda Espírito Santo
Na nossa terra, amiga, há um tempo
de silêncio e caules ressequidos
Chega com metacarpos definhados
quando na úbua desfalece a trepadeira
Entra com o bafo poeirento
rarefeitas as unhas, candrezados os ramos
e ulula de mansinho nos bananais
como um melancólico aviso
É um tempo de folhas sem orvalho e mem-lôfi
de pagauês doridos, carentes de leite
de soturna claridade ao pôr do sol
A fria brisa nos diz que esse tempo virá
E cobertas de pó
ficarão as hastes do pilincano
imoladas ao hálito da terra
Será triste o rio e seu nome
na lonjura do vági
mortas estarão as casas e suas janelas
morto o suim-suim e seu canto
morto o macucú e a ubaga velha
A pele de pitangueiras e salambás beberá
das frutas torrenciais a lembrança
porque o luchan estará morto
amiga
Mas sobre a pedra e o fogo
tua voz de imbondeiro crescerá do barro
para resgatar a praça em nova festa
para ressuscitar o povo e sua gesta.
(Conceição Lima, n 1961, S. Tomé e Príncipe
in "O Útero da Casa", Editorial Caminho, 2004, Lisboa)