terça-feira, março 22, 2005

Desaparecido

Sempre que leio nos jornais:
"De casa de seus pais desapareceu... "
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto de arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser meu
— Livre o instinto, em vez de coagido,
"De casa de seus pais desapareceu..."
Eu, o feliz desaparecido

(Carlos Queirós, 1907-1949, Portugal
in "Poesia de Carlos Queirós", 1966)