O dúbio mascarado - o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito -
Bem no fundo o covarde rigoroso.
Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua Alma de neve, asco de um vómito.
Seu ânimo, cantado como indómito
Um lacaio invertido e pressuroso.
O sem nervos nem Ânsia – o papa-açorda,
(Seu coração talvez movido a corda...)
Apesar de seus berros ao Ideal.
O raimoso, o corrido, o desleal -
O balofo arrotando Império astral:
O mago sem condão, o Esfinge gorda.
(Mário de Sá-Carneiro, 1890-1916, Portugal
in "Poemas Completos"
Edição Fernando Cabral Martins, Assírio & Alvim, 2001)